Campainha é cachorro. Porta é porteira. Porteiro é “vamos entrar”. Obra de arte é a natureza. Sala de visita é cozinha. Televisão é fogão de lenha. Computador é a prosa. Chique é a simplicidade. O mineiro do campo tem essa marca tão gostosa de se viver. E se assim não for, pode saber que é clandestino tentando se passar por legítimo.
Bem no pé da Serra da Canastra, na fazenda do Onésio e da Dona Helenice, o trato é desse jeitinho. Sem tirar nem pôr. Timidez se confunde com o simples de uma gente trabalhadeira e que não deixa de abrir as portas e porteiras de sua propriedade para quem busca um dedinho de prosa, um café quentinho e daquele pedaço gostoso do queijo Canastra curado, amarelinho que só.
Difícil arrancar o segredo de Dona Helenice para fazer um queijo tão gostoso daquele. Diz ela que tem não. É o carinho e o amor de ir para a casinha todo dia e amassar quilos e quilos da massa. Solta bem baixinho, tímida, quase que olhando para o dedão do próprio pé. O jeito é correr para o curral e ver se lá é que está a sabedoria daquela fazenda.
Se de Dona Helenice não se arranca uma letra sequer, do Onésio a tarefa é impossível. “A vida é a escola”, diz sem muita palavra e pede logo que o silêncio volte para não atrapalhar as vacas. No campo, descobrir segredo das delícias do Queijo da Canastra é “procurar chifre na cabeça de cavalo”.