Quando se é criança na cidade grande, a primeira ideia que se faz da fazenda é do leite saindo da vaca já em formato de caixinhas.
Aí, o menino cresce, vai morar no apartamento, se acha sabido, mas nem de longe sabe explicar de onde vem o presunto.
Vira homem, trabalha como uma máquina e passa a não aguentar mais tanto barulho do trânsito. Sonha em ir para o campo, onde acredita reinar o silêncio, como se houve um botão de “desliga” na natureza.
Chegam os netos e a meta passa a ser chegar o dia em que terá uma casinha na roça sem nenhum despertador para lhe acordar.
É verdade que despertador, daqueles de piscar, nas fazendas da Região do Queijo da Canastra, não entram nem com porteira aberta e sem mata-burro. Mas pensar que um dia haverá silêncio sem nenhum despertador é ignorância de gente da cidade grande.
O despertar do produtor de queijo continuará sendo o bom e velho galo garnizé e sua campainha de gogó, sem falhar nem um dia.
Valtinho e Vanessa começam o dia com a serenata do garnizé, das vacas mujindo, dos passarinhos cantando e das cigarras estridentes. O som da natureza é quem embala a produção do queijo e dita o ritmo deste casal alegre e divertido da cidade de Medeiros.
Buzina? Só mesmo a voz forte de Valtinho que enche o curral e às vezes tira Vanessa do sério. Nada que o som de uma boa risada resolva rapidinho.
Os sons da Serra da Canastra são como música boa. Uma serenata para quem vive a fazer um queijo digno de mãos habilidosas de um maestro.