Júlia não é só mais uma produtora do Queijo da Canastra num mundão onde centenas de famílias sobrevivem desta joia da casca amarela. Ela é uma espécie de guerreira do Povoado das Buracas, uma comunidade espalhada bem de frente ao longo paredão de onde descem bailando duas formosas cachoeiras.
A morena de olhos verdes, cabelos lisos até o ombro, pele tostada pelo sol, braços fortes e roliços e um rosto que sai da seriedade para um doce sorriso num piscar de olho é uma fortaleza de mulher.
Mesmo ainda bem menina, campeava o gado e só deixava a fazenda do pai para estudar. No caminho, fazia de suas brincadeiras e estripulias com as outras crianças da vizinhança. Muitas delas era preciso deixar longe do conhecimento dos mais velhos, como o dia que colocaram fogo no pasto ao brincar com uma caixinha de fósforo.
O tempo não lhe deu escolha e sossego. Assim como o vento chega sem avisar ou fazer barulho, passou de menina a mãe solteira.
Produtora solteira. E desde então, tudo passa por suas mãos: do trato da criação até o maturado do queijo. Sem nunca desgrudar o olho de Vítor, seu filho e paixão.
Se a maioria dos queijos da Canastra passam pelas mãos de um casal, o de Júlia já nasce com um sabor diferente. Ele é filho único de uma mãe menina.