Desde criança, o sonho de Érica foi viver junto dos animais, na roça, em São Roque de Minas. Seu amor sempre foi
tão grande que cresceu conversando com a criação. Passou a entender os sentimentos dos bichos com o olhar, no
toque da mão sobre os pelos ou até mesmo no silêncio absoluto de uma tarde ensolarada e sem vento.
Outro sonho de Érica era seguir a produção de queijo da família. Para isso conseguiu a parceria de seu companheiro,
que para ganhar o amor daquela menina que até conversava com os animais, não poderia ter um apelido tão propício:
Pinguim.
A vida dura do campo chegou a judiar dos dois. Largaram a produção do queijo e foram se aventurar na selva de
pedras. Sem nenhum bichinho para conversar e sem se acostumar com os queijos sem alma oferecidos na cidade
grande, Érica e Pinguim não aguentaram.
Sorriso devolvido, turma de prosa reunida no curral e queijos e mais queijos produzidos diariamente ao modo único
da Canastra. Hoje a vida em São Paulo virou só lembrança ruim. Certa feita, um parente do estado vizinho ofereceu a
Pinguim tudo para ele voltar e fazer aquele queijo famoso por lá. Diz Érica que a resposta foi imediata: “não tem jeito
de fazer lá em São Paulo. Canastra é só aqui na Canastra”. Ela jura que até as suas vacas já respondem isso aos
visitantes.