O sabor. O sangue. O DNA do queijo. São várias as formas que o pessoal da Região do Queijo da Canastra chama o “pingo”. As gotinhas que lentamente se soltam da massa são a vida que se encontra em cada peça de queijo.
É do seu contato com o leite do dia seguinte que fecunda a tradição mais importante e secular da serra mineira.
Sem o pingo, não há vida. Sem ele, é como se o queijo nascesse morto. Sem alma, sem sentimentos e sem história.
Sem o pingo, o queijo nascia sem Canastra.
Essa é a sabedoria passada de pai para filho. Um segredinho em forma de gotas capaz de encher de vida uma nova família, uma nova casinha de queijo.
André, o produtor tímido do Povoado das Buracas, tem um sorriso de quem sempre está dando boas vindas.
Seu amor pela roça e o carinho que desperta em sua família são uma espécie de pingo, o pingo do André. É como se levasse vida todos os dias para a sua casa após mais uma jornada de trabalho.
Num certo dia, quando o céu começou a escurecer, anunciando uma chuva de pingos grossos, a pequena Marina saiu correndo para a frente da casa com as perninhas curtas e ainda não muito acostumadas a andar; colocou a mãozinha na cabeça e esperou o papai chegar.
Não precisa de sabedoria para entender o que significou o sorriso no rosto daquele pedacinho de gente quando o trator de arado surgiu no alto do morro trazendo o papai André, antes dos pingos de chuva.